domingo, 30 de março de 2008

Até a última gota

Vejo o choque das gotas da chuva que se arremessam contra o vidro da janela do meu quarto, como abruptamente elas perdem suas formas e se espalham em gotículas e, então se mesclando a pedaços de gotas diferentes, se refazendo, atingindo o peso suficiente para que a força da gravidade as atraia e faça com que deslizem pelo vidro e voltem para o solo, reiniciando o ciclo.

Talvez aconteça o mesmo com as pessoas, elas são arremessadas umas contra as outras em cursos, em trabalhos, salas de bate-papo, em elevadores, ligações por engano, em festas de aniversário, funerais ou seja lá mais onde as pessoas se conheçam. Na hora do choque nem sempre conseguimos passar tudo o que somos, é a velha história da primeira impressão, boa ou ruim, do amor à primeira vista e da desilusão à segunda, - acredito até mesmo que ninguém passa exatamente tudo o que é nem em anos de convivência e que sempre temos surpresas ao dobrar a esquina -. Acontece que nesses choques as pessoas podem se juntar à outras por afinidade, por exemplo, ao ouvir uma conversa entre outras pessoas você pode descobrir que estas gostam dos mesmos livros que você, e, depois de uma conversa breve você pode até mesmo se tornar amigo delas, posteriormente descobrindo que na verdade eram traficantes de órgãos. É um risco a se correr, nunca acertamos sempre em nada, nem mesmo na escolha de amigos. Mas os que sobrevivem à prova do tempo, ah, esses sim fazem valer à pena todas as barcas furadas em que naufragamos ao longo do rio da vida. E, se tudo dá errado é só fazermos como a água da chuva, nos arremessamos de novo e reiniciamos o ciclo.

sábado, 22 de março de 2008

Jornada nas Mercedes

Eu pego ônibus todos os dias para ir para o trabalho e para voltar, salvo situações em que meu pai empresta o carro dele ou quando eu volto de carona com algum amigo.
No ponto em que eu pego a condução para ir para o trabalho, passam os ônibus que vão para o Itaim, para o Sesc e, o que eu pego, para Mogi. Seguindo a lei de Murphy de que sempre a fila ao lado anda mais rápido, parece que sempre tem mais ônibus para os outros destinos do que o meu. Às vezes chega ao cúmulo de passarem dois ônibus para o Itaim antes de passar um para Mogi.
De tanto esperar o meu ônibus para ir para o trabalho eu fico feliz em vê-lo até mesmo quando eu não preciso dele, hoje eu estava de carro, e passei ao lado do ponto e lá vinha a condução que eu tanto espero durante a semana, senti alegria ao vê-lo e só depois me veio à mente que além de estar de carro eu não estava indo para o trabalho, então não havia significado algum essa exaltação em vê-lo.
Adoro ler nas viagens ao trabalho, mas confesso que por vezes passo mal. Depende muito da habilidade do motorista e de quanto está aprumado meu labirinto. Quando não tenho nada para ler ouço algum podcast no mp3 player ou mesmo alguma música que eu nunca tenha reparado muito na letra, ou que queira aprender a cantar ou tocar. Gosto de me sentar na janela e ver o cenário passando em alta velocidade, ver as pessoas, o comércio, às vezes dá até para flagrar alguma coisa engraçada para alegrar o dia ao contar aos amigos. Nem sempre tem lugar na janela, na ida é praticamente garantido o meu lugar, mas na volta é mais difícil, foi numa dessas vezes que eu me sentei no lado do corredor que eu reparei que os protetores dos parafusos no teto dos ônibus são idênticos às balas Mentos, tanto na forma e tamanho quanto na cor, branca, não estou falando de Mentos sabor morango ou algo assim.
Falando na volta, existe ainda um outro processo, não basta a alegria de ver o ônibus chegando ao ponto, também tenho que verificar se existe algum lugar para eu me espremer dentro, não tenho aversão ao contato humano, mas às vezes, por problemas de física, a porta se fecha comigo do lado de fora. Pelo menos agora que eu estou usando lentes de contato no grau certo eu consigo enxergar que ônibus está vindo.

terça-feira, 11 de março de 2008

Eu vou chegar lá (onde?)

...Se enjoa fazer sempre a mesma coisa, faz outra, mas a outra também enjoa e assim nunca para em lugar algum. Em ritmo desenfreado, talvez buscando uma fuga, um atalho, o sossego ou a simples alienação. Ver se realmente a ignorância é uma benção, se juntar ao gado desacerebrado, seguir com a maré e ver onde vai chegar e no final botar a culpa no destino. É mais fácil, mais cômodo e no final se ausentar da culpa mesmo sendo o timoneiro que dormiu na cabine do navio.
Muitos sofrem pela falta de um sentido, da ausência de ansiar por algo, navegando sem o norte, sonhos vazios e buscando somente escapar da realidade, ignorar o futuro se ausentando do presente. Talvez seja falta de dar atenção aos sonhos para visualizar o destino e de perceber os sinais que Deus dá pra indicar o caminho...

sexta-feira, 7 de março de 2008

As palavras que se desconectam do lugar-comum dão vazão à imensidão entre o universo que separa as reticências. A verdade se esconde no silêncio, coisas nunca ditas escondidas no vácuo do não-espaço.