sábado, 26 de abril de 2008

Sonho ou pesadelo?

Ontem eu tive um sonho muito estranho no ônibus, num cochilo rápido, quando fazia meu trajeto para o trabalho (acho estranho quando consigo entrar num estado de r.e.m. tão rápido assim, mas acontece).

Sonhei que estava em uma escolinha infantil, não sei dizer ao certo se era pré-primário ou algo assim, mas poderia ser. Era uma escola da Turma da Mônica, mas não lembro de nenhuma menção ao resto da turma, somente à personagem título. Eu comecei a notar que todas as professoras tinham dentes proeminentes, mas, até então, isso não tem nada de anormal, algumas pessoas são dentuças mesmo e pronto. Só que então comecei a notar que algumas professoras eram realmente dentuças demais e mal conseguiam fechar suas bocas.

Então aconteceu de uma das professoras ser promovida (para coordenadora talvez ou seja lá que promoções existam), e então eu descobri o segredo dos dentes grandes... Com a promoção ela devia aumentar a prótese dentária, era uma das condições, inclusive, para começar a trabalhar lá. Todas a professoras eram dentuças porque foram obrigadas a fazer implantes de dentes maiores que o normal, e as que tinham os maiores dentes eram as de cargo mais alto.

Às vezes meus sonhos me assustam.

sábado, 19 de abril de 2008

Só depois do fim

Posso ver seus lábios se movendo, mas não ouço as suas palavras. Mal consigo me mover, a dor, latejante, dominando cada centímetro do meu corpo, como centuriões em batalha pelejando contra camponeses insurgentes. Talvez seja esta a dor final e o que reside à frente deste momento é o motivo pelo qual definimos nossos atos ao longo da vida. A Vida. Passando como um filme diante dos meus olhos, poucas memórias intactas dos tempos idos. Como filmes embolorados de uma velha câmera super oito encontrados em uma caixa tomada pela poeira e teias de aranha, as cenas de minha infância se abrem em sua projeção falha, me vejo a acenar com alegria, os braços se movendo com rapidez, somente um borrão, o brilho nos olhos, a primeira bicicleta. As imagens começam a se tornar levemente mais nítidas à medida que o filme percorre os anos, a primeira paixão, os primeiros grandes amigos para toda a vida naqueles anos, as férias que pareciam intermináveis, tardes de sol poente, a luz cobreada em contraste com as nuvens carregadas do verão.
Tenho um lampejo de lucidez, estou sendo levado em uma maca, todos me olham como se fosse a última vez, todos desejando dar o último adeus e ao mesmo tempo desejando que nada disse seja verdadeiro. Vejo lágrimas, olhos vermelhos, pessoas tentando se passarem por fortes nesta hora, tentando serem fortes pelas outras que não conseguem, entrando em ruínas por dentro da fachada de frieza. Vejo borrões, as luzes, as sombras, as sombras.
Estou com 15 anos novamente, estou perto de uma árvore, estou perto do primeiro beijo, tardio para os tempos modernos, mas inesquecível em todas as gerações. Não sei até hoje se a amava, talvez na época não soubesse nem ao menos o que é o verdadeiro amor. Tudo o que parecia grandioso na juventude se tornava insignificantes na vida adulta, problemas maiores, contas maiores precisavam de salários maiores e a vida nunca se tornaria mais simples.
Me resta tão pouco tempo agora, posso ver os últimos grãos de areia a brigar pela vez de passar para o lado de baixo da ampulheta. É curioso e desesperador ver como no final tudo acaba tão rápido. Nossa vida se forma como um grande arranha-céu, com a diferença que nem sempre é planejada, mas em todos os casos nos formamos do alicerce do ambiente familiar, dos amigos, as bases que sempre nos sustentam. A cada ano um novo andar a ser construído, a cada andar uma surpresa, algo a aprender como superar, talvez o amor seja o elevador com seus altos e baixos e lá pelo quadragésimo andar todos os andares começam a se parecer apenas como mais um andar, nada de especial, um após o outro. Por vezes deixamos de usar o elevador para olharmos para as nossas bases e nos esquecemos do seu real valor, nem nos lembramos o que somos por ignorarmos de onde viemos. Mas no final tudo desaba em segundos e o que importa não é em que andar chegamos, mas como fomos felizes em cada um desses andares.
Queria poder dizer tudo o que penso aos meus filhos e netos, queria mais tempo, mais do que tive. Ironicamente, neste tempo extra eu diria muito sobre como não perder tempo. Tive uma vida feliz, disso não tenho do que reclamar, mas por muitos anos eu vaguei como um cego no deserto. Das coisas que desperdiçamos talvez a pior coisa seja o tempo. Vi que podemos nos empolgar com filmes de ação mas no final tudo o que importou foi o drama, tudo o que motivou foi o amor, que correr atrás de quem se ama nunca é desperdício de tempo e que o final da história nunca é o pôr-do-sol seguido dos créditos e da música-tema. Vi que existe uma beleza única escondida em cada folha que consegue vencer o asfalto.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Acesso

Lembro que já faz um tempo que não venho aqui, posso ver a velha caixa de sapatos com as nossas fotos sendo enterrada pela poeira e pelas teias de aranha. Talvez seja assim também com o nosso passado, guardado nos pensamentos recônditos, com apresentações-surpresa de teatro de sombras nos momentos de silêncio. Por vezes não consigo lembrar do seu rosto e me sinto tentado a abrir a caixa, porém, algo me impede, pode não fazer muito sentido, mas penso em como pode demorar para a camada de pó se assentar novamente, e em quão trabalhoso foi o processo de tecer as teias que a cercam, pode ser essa a minha segurança.
Não é a minha vontade, mas um dia este quarto pode ser esquecido, os intervalos entre as minhas visitas têm sido cada vez mais longos, como uma pedra arremessada na água, as ondas vão desaparecendo à medida que se afastam do ponto de colisão, talvez seja erguido um muro de tijolos sobre sua porta e, se assim for, só o descobriria novamente se meu mundo desabasse.
Entenda que eu não quis trancar a caixa de fotos aqui, não vou ser hipócrita e dizer que ela não cabia nos cômodos que eu sempre visito, pois sempre há espaço, mas precisava deixá-la em algum lugar, longe da minha visão. Acredito que sempre podemos nos desfazer das coisas que lembram, mas a lembrança em si sempre vai continuar escondida em algum canto.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Trecho sem importância de um livro que não vai existir

A osp o ucos asco isas vão se acertando. Acho que nada nasceu perfeito, não importa no que você acredite, sempre as etapas não se equiparam na real beleza do destino, rabisco, borrão, Monalisa, no processo as coisas parecem caóticas muito provavelmente por não conseguirmos visualizar o destino. Pode parecer otimismo, mas sempre acreditei que no final tudo dá certo, seja pelo caminho fácil ou difícil, com ou sem estresse no final tudo dá certo.
Lembro de uma vez, na época que eu ainda era apenas um garoto que mal havia retirado as rodinhas laterais da bicicleta, perdido em pensamentos sobre o que era a minha então concepção de mundo, nada muito errado, nada muito certo residindo na minha mente e ainda assim é hoje. Não posso afirmar nem mesmo as certezas, meu raciocínio se limita às minhas experiências e meus sentimentos vivem a me pregar peças.
Talvez vivamos sempre de fugas, sempre desejando estar em outro lugar, com outra pessoa, com outro salário, almoçando ou jantando outra coisa e quem consegue sossegar é em sua maioria quem não tem mais energia para mais uma braçada nadando rio acima, acho que estou sendo pessimista agora, não é mesmo? Engraçado como percebemos que de fato não há muro, não estamos do lado de lá nem no de cá, e, ele inexistindo, é impossível ficar em cima também. Tiramos sarro dos cachorros quando correm atrás do próprio rabo, mas não vemos que fazemos a mesma coisa numa escala muito maior, corremos atrás de destinos desconhecidos, indo na onda do vamos ver no que vai dar. Mas ainda acho que no final chegamos em algum lugar, mesmo as viagens sem destino terminam em algum lugar, não é mesmo? É sé você se lembr da l i v z

quarta-feira, 9 de abril de 2008

A New Hope

Tá vendo aquela estrela ali? Perto daquela grande cintilando? Eu costumava voar por ali. Antes mesmo de poder ser um pensamento. Eu via você todas as noites de lá. Pensava o que tanto você olhava, o que buscava encontrar no céu. A propósito, você encontrou o que tanto buscava? Depois de alguns anos você cessou a busca, passou a olhar mais para o chão, como se estivesse contando as pedras pelas quais pisa ao andar. Por vezes notei também que suas lágrimas vertiam de seus olhos, deslizando por sua face, seus ombros delicados tremiam a cada respiração ofegante. Provavelmente você não me ouça mais como costumava, talvez nem mesmo reconheça a minha voz, certamente não acredite mais em mim. Estou aqui a vigiar o seu sono, vejo que passa por uma rara noite de quietude. Queria poder deixar um cartão de visita ao lado do seu travesseiro, agora com os dizeres "Olá, meu nome é esperança, lembre-se de mim".

terça-feira, 8 de abril de 2008

- Queria ter uma máquina do tempo, sabia? Gostaria da possibilidade de desfazer tudo o que fiz de errado ao longo dos anos, as pessoas que eu magoei, rever as minhas prioridades. Estive muito tempo focada no que não era realmente importante, buscando mais valor nas coisas do que nas pessoas. Usei de confidências de pessoas que me eram queridas para buscar status entre as pessoas que poderiam me tornar mais importante. Gastei mais tempo querendo ser alguém do que desfrutar da companhia das pessoas que realmente se preocupavam comigo, que me perguntavam de coração se eu estava bem quando a expressão estampada nos meus olhos não era das melhores... Mas agora é tarde demais. As linhas já foram traçadas...
- Claro que não é tarde, ainda dá tempo de mudar, de consertar tudo o que você reconhece que está errando.
- Não, não dá mais tempo, só posso olhar para trás com pesar...
- Mas é claro que dá tempo. Meu Deus... você só tem dez anos, menina!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Seja lá...

Momento congelado que estava a transformar
imagem etérea e perdida que ecoa a ilusão
faz de mim o oleiro deste vaso a se quebrar
trazendo do espelho momentos de satisfação
fogo fátuo em lampejos do mundo do sonhar
me traem as vozes que me impedem de contar
o que em letras persistem em escapar
de teu confinamento as palavras que devo circundar
imagens somem como vapor ao vento
se ao longo da estrada não alimento o pensamento.