terça-feira, 24 de junho de 2008

Ao mar e ao vento

Lembro-me de uma escultura em areia, deixada à beira do mar, intocada, dourada quando banhada pelos raios do sol no final de uma tarde sem nuvens. Me pergunto quando a maré subiria. Suas ondas a chocar-se contra suas formas, fazendo com que, a cada golpe, ela se desfizesse cada vez mais em minha memória. Talvez o mar se cansasse pela manhã e recuasse para onde nunca deveria ter saído deixando com que a escultura ainda seja reconhecida à um olhar mais atento, mas o vento, este sim impiedoso, espalharia um a um o seus grãos até o final da tarde, não restando nem mesmo a lembrança de que um dia esteve lá. Na verdade penso que esta escultura estará sempre por lá, cada um dos grãos que a formavam ainda serão parte da praia. Creio que um dia o vento poderá soprar de volta cada um dos grãos e formar a imagem novamente. Precisaria de um milagre, mas não é impossível.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Nota

Eu sou apenas uma nota de dois reais, surrada, rasgada, amassada e rabiscada mas nem sempre fui assim. Um dia eu fui novidade, um dia me mostraram com orgulho para todos que pudessem ver, minhas cores eram vibrantes, únicas e chamavam a atenção pela diferença em relação às outras de valor diferente que há tempos circulam por aí, por vezes chegaram até a sentir o meu cheiro de nota nova. Lembro-me como se fosse ontem, a primeira vez que deixei as minhas irmãs e me guardaram carinhosamente em uma carteira com muito cuidado para não ser amassada. Tempos bons eram aqueles, antes que eu fosse passada de mão em mão, antes de cair no chão, de ser pisada, roubada. Já custei suor, lágrimas, sangue e vidas, fui trocada por medicamentos que salvaram vidas e por bebidas e drogas que as destruíram. Vejo diariamente as pessoas se digladiando e correndo em suas vidas que giram em torno da minha espécie, por vezes cheguei a amaldiçoar a minha existência, mas cheguei a conclusão de que o problema não está em nós, mas sim o que fazem em nosso nome.

domingo, 1 de junho de 2008

Taí uma coisa que eu nunca tinha parado para pensar

Como medimos os nossos atos? De onde vem a certeza de que é o certo a fazer?
Essa dúvida sempre pairou sobre a humanidade, não importa a raça ou a crença, a questão do que é certo esteve lado a lado com a nossa história.
Acabei de pensar em uma coisa e corri para escrever aqui. Creio que não vá resolver tudo, mas ajuda muito. Multiplique tudo por mil.
Você tem a dúvida se é legal ou não o que está fazendo? Pense como seria se mil pessoas estivessem fazendo o mesmo no mesmo local. Se parecer insuportavelmente caótico então não é legal. Da mesma forma, se mil pessoas estivessem fazendo o mesmo que você e a harmonia e a paz perdurassem, pode ter certeza que é uma coisa muito legal de se fazer.
É um pensamento muito simples, vamos pegar o exemplo da música. Se você canta bem, mil pessoas cantando bem é uma coisa muito legal, mas se canta mal, imagine um coral de mil vozes desafinadas, ouvidos sangrando, não é muito agradável, né? Não estou tão desperto a essa hora, mas acredito que essa "matemática" serve, para ser aplicada em quase tudo, para sabermos se somos ou não pessoas agradáveis. Uma vez identificado o problema (e aceito) é mais fácil de se corrigir e melhorar.

Agradecimentos à Flavia, pois essa idéia surgiu quando eu estava conversando com ela.