domingo, 30 de março de 2008

Até a última gota

Vejo o choque das gotas da chuva que se arremessam contra o vidro da janela do meu quarto, como abruptamente elas perdem suas formas e se espalham em gotículas e, então se mesclando a pedaços de gotas diferentes, se refazendo, atingindo o peso suficiente para que a força da gravidade as atraia e faça com que deslizem pelo vidro e voltem para o solo, reiniciando o ciclo.

Talvez aconteça o mesmo com as pessoas, elas são arremessadas umas contra as outras em cursos, em trabalhos, salas de bate-papo, em elevadores, ligações por engano, em festas de aniversário, funerais ou seja lá mais onde as pessoas se conheçam. Na hora do choque nem sempre conseguimos passar tudo o que somos, é a velha história da primeira impressão, boa ou ruim, do amor à primeira vista e da desilusão à segunda, - acredito até mesmo que ninguém passa exatamente tudo o que é nem em anos de convivência e que sempre temos surpresas ao dobrar a esquina -. Acontece que nesses choques as pessoas podem se juntar à outras por afinidade, por exemplo, ao ouvir uma conversa entre outras pessoas você pode descobrir que estas gostam dos mesmos livros que você, e, depois de uma conversa breve você pode até mesmo se tornar amigo delas, posteriormente descobrindo que na verdade eram traficantes de órgãos. É um risco a se correr, nunca acertamos sempre em nada, nem mesmo na escolha de amigos. Mas os que sobrevivem à prova do tempo, ah, esses sim fazem valer à pena todas as barcas furadas em que naufragamos ao longo do rio da vida. E, se tudo dá errado é só fazermos como a água da chuva, nos arremessamos de novo e reiniciamos o ciclo.

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