segunda-feira, 14 de abril de 2008

Acesso

Lembro que já faz um tempo que não venho aqui, posso ver a velha caixa de sapatos com as nossas fotos sendo enterrada pela poeira e pelas teias de aranha. Talvez seja assim também com o nosso passado, guardado nos pensamentos recônditos, com apresentações-surpresa de teatro de sombras nos momentos de silêncio. Por vezes não consigo lembrar do seu rosto e me sinto tentado a abrir a caixa, porém, algo me impede, pode não fazer muito sentido, mas penso em como pode demorar para a camada de pó se assentar novamente, e em quão trabalhoso foi o processo de tecer as teias que a cercam, pode ser essa a minha segurança.
Não é a minha vontade, mas um dia este quarto pode ser esquecido, os intervalos entre as minhas visitas têm sido cada vez mais longos, como uma pedra arremessada na água, as ondas vão desaparecendo à medida que se afastam do ponto de colisão, talvez seja erguido um muro de tijolos sobre sua porta e, se assim for, só o descobriria novamente se meu mundo desabasse.
Entenda que eu não quis trancar a caixa de fotos aqui, não vou ser hipócrita e dizer que ela não cabia nos cômodos que eu sempre visito, pois sempre há espaço, mas precisava deixá-la em algum lugar, longe da minha visão. Acredito que sempre podemos nos desfazer das coisas que lembram, mas a lembrança em si sempre vai continuar escondida em algum canto.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oiee, nossa mas como esses textos do meu amigo estão cd vez mais filosóficos, gostei. Lança o livro logo rsrs teh mais

July disse...

Concordo com o livro...